MULTIPLICIDADE NÃO TEM SUJEITO NEM OBJETO
24 jun 2022 - 24 jul 2022
Galeria de Artes Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho
Caxias do Sul/RS.
Projeto contemplado na Convocatória de Arte da Secretaria da Cultura - UAV Caxias do Sul, 2022.
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Perguntas sobre negociar as ligações; ou como operar no mundo a partir de UN? Do que é feito o tecido social que envolve todas as pessoas? Seria feito de matéria flexível que cede e se conforma generosamente segundo os gestos, decisões e movimentos de uma coletividade, ou mortalha rígida que nos endereça à imobilidade e estagnação? E entre estes extremos, onde a vida acontece? É feita de negociações, de gravidades e levezas, como nos sugere Simone Weil, em que as trocas praticadas dependem da consciência do peso que cada um carrega em si? Eis aí a evidência da responsabilidade do um com todos, extendendo o todos ao humano e ao não humano. Quais os limites das ligações antes de sua contração fusionante ou expansão que esgarça até despedaçar a trama que nos envolve? Essa consciência do eu e do nós, em simultaneidade, estaria assentada na intensa e constante busca por equilíbrio entre o coletivo e o individual? Pois, como nos propõe Novalis: “estamos sós com tudo aquilo que amamos”. Entre junção e cisão, quais qualidades de ligações podem ser estabelecidas, quais espaços possíveis são instituídos pelos fios que nos ligam uns aos outros? Espaços privados, espaços públicos, cidades redesenhadas pelos fios que conectam seus habitantes, como em Ersília de Italo Calvino: “(…) para estabelecer as relações que governam a vida da cidade, os habitantes estendem fios entre as esquinas das casas, brancos ou pretos ou cinzentos ou pretos e brancos, conforme assinalem relações de parentesco, permuta, autoridade, representação. Quando os fios são tantos que já não se pode passar pelo meio deles, os habitantes vão-se embora: as casas são desmontadas; só restam os fios e os suportes dos fios”. Essas ligações sobrecarregam ou mitigam as tensões do viver junto, em curto-circuito? Influem sobre nossa concepção de mundo, afinal quais ajustes estamos dispostos a fazer para pertencer a determinadas coletividades? Para Gonçalo M. Tavares “(…) incorpo será a parte do corpo constituída por ligações (afectos negativos ou positivos) que estabelece com o Mundo (pessoas, objectos, animais, lugares, acções-hábitos). O corpo, seria, então, constituído pela carne - fisiologia viva - mais o incorpo. Quanto mais o corpo se reduz à carne (menor número de ligações com o mundo) menos o corpo tem a perder, mais o corpo é sacrificável”. Assim sendo, quais naturezas de corpos são amalgamados por esses fios invisíveis que nos possibilitam aderência entre ideias, sonhos, desejos, culturas?
texto curatorial por Glaucis de Morais